O EP "Sobre sonhos e sons", trabalho inaugural da banda paulistana Áudio Estrada, produzido por Sergio Soffiatti, dificilmente passará despercebido dos ouvidos mais atentos. As quatro faixas do grupo deixam entrever o nascimento de um conceito musical singular. Trata-se de um som que não cria remissão com o de outras bandas da atualidade, mas que curiosamente pode ser percebido como uma leitura brasileira do melhor estilo indie.
A música de Áudio Estrada consegue sofisticação sem recorrer ao excesso de arranjos sonoros ou vocais. Isso porque há uma feliz harmonia entre melodias fáceis de ouvir e uma voz jovem e espontânea. No jogo instrumental, os teclados, sempre discretos, deixam que o diálogo entre guitarras, baixo e bateria ganhe evidência. É nessa simplicidade que encontramos a melhor atmosfera do rock, convidando à entrega e à dança.
Outro ponto da música de Áudio Estrada que agrada é a carga poética das letras. Por meio de construções leves, elas descrevem o denso universo dos sentimentos. Frequentemente, os textos invocam a relação do discurso amoroso com a própria arte de fazer músicas, como se vê nos trechos: "Cantei por um feliz final/ Meu melhor som eu te entreguei"; "Deixo o coração pulsar o som/ Rimar a vida em forma de canção"; "É quando eu lembro simples histórias/ E uma canção pra ouvir/ Cantar memórias"; "Vibra o tom/ Percorre a voz/ Procura um som que fale sobre nós".
A relação entre amor e música torna-se tão íntima que é inevitável questionar se a vivência amorosa torna-se motivo para criar músicas ou se, do contrário, é a criação musical que serve de combustível ao desejo de viver experiências amorosas.